Fool me. I like it.
Às vezes gosto de ser enganado. Engano a quem me engana e, em prol de um momento de paz, finjo que acredito, ou finjo que não sei. As coisas fluem à vontade do outro, finjo, finjo e finjo, vivendo numa realidade paralela ao meu gosto, decorada com confortáveis almofadas de penas de ganso, pisos limpos, feitos para ninguém andar. Isso vai até onde eu quero: surpreendo o enganador com um hábil golpe na hora mesmo em que decido que o mundo inventado por mim precisa ser destruído. Recolho as almofadas, corto as asas que me fazem pairar sob o piso de quase-luz, injeto-me uma dose cavalar de realidade pura, cruel, e volto do sonho, chamando ambulâncias, cansado de fingir, doente de tanta irrealidade.