[lula e o sorvete da ribeira]
No domingo das eleições estive em minha terra, a Ribeira (sim, porque apesar de, hoje, morar no Rio Vermelho, me considero nativo de lá) para tomar um sorvete. Desisti ao ver o tamanho da fila, que quase fazia curva na próxima esquina. Estava com um amigo de fora que disse:
- Nem vale tanto a pena pegar a fila. O sorvete nem é tão bom.
E é verdade. Baianos somos e orgulho temos, mas tem sorvete melhor do que o da Ribeira sim, vamos admitir. Então, me pergunto: “Por que será que, mesmo sem ser tão bom assim, o sorvete da Ribeira atrai gente da cidade inteira, gente que literalmente cruza Soterópolis de um ponto a outro para saboreá-lo?” A resposta só pode ser uma: a força do mito. O boca a boca simplesmente transformou o Sorvete da Ribeira no melhor sorvete da cidade, no ponto turístico que se iguala em importância ao Elevador Lacerda. E quem quiser que diga o contrário. Vir à Bahia e não tomar o sorvete é igualzinho a ir a Roma e não ver o Papa.
E é nessa hora exata que começo a esclarecer o título desse post, porque é nessa hora exata que me dou conta, olhando para a filha quilométrica, de que o que mantem Lula no poder é a sua aura mitológica.
Não importa o que ele fez ou não fez: assim como o sorvete da Ribeira, Lula é adorado sem muitos questionamentos. O povão – que é muito parecido com nós mesmos, ou com os turistas que chegam afoitos à cidade em busca do famoso sorvete – vota em Lula porque ele tem uma história que o eleva ao patamar maior do mito. Veio do proletariado, perdeu um dedo no exercício de uma profissão árdua e que paga mal, nunca esteve em uma universidade e nunca ouviu falar em concordância nominal. Outro dia li um ensaísta (me perdoem a falta do nome), que dizia que Lula nunca se dispôs a fazer um curso superior para manter, através da suposta ignorância, a aura de mito. Pode até ser.
Algumas sorveterias da cidade já tentaram colocar nas suas portas, em letras garrafais, que o sorvete que vendiam era da Ribeira. E não deu certo. Porque sorvete da Ribeira só é bom se tomado na Ribeira, assim como Lula só é bom quando ele esquece o plural e cita a mãe e seus conselhos sábios.
Lula sabe disso. Ele sabe do poder que tem, e sabe que a sua imagem ainda está imaculada por conta do mito que é. Se você já sucumbiu ao mito e foi à Ribeira tomar o famoso sorvete, já deve ter reparado que lá eles não primam em nada pela higiene. O piso é sujo, os meninos que atendem são mal-amanhados e a impressão que se tem é que, assim como o governo Lula, tem muita sujeira escondida no porão. Mas, mesmo assim, um domingo sem o sorvete da Ribeira, para alguns, é sem graça.
E assim passam-se os dias, os anos, e a gente segue, ignorando umas verdades aqui e outras ali, aceitando o óbvio, escolhendo o que há de menos pior. Pisamos na lama preta da porta da sorveteria e, mesmo assim, quando pomos a pazinha na boca, cheia de sorvete, agradecemos a Deus porque sorvete igual aquele ninguém ainda conseguiu inventar.
- Nem vale tanto a pena pegar a fila. O sorvete nem é tão bom.
E é verdade. Baianos somos e orgulho temos, mas tem sorvete melhor do que o da Ribeira sim, vamos admitir. Então, me pergunto: “Por que será que, mesmo sem ser tão bom assim, o sorvete da Ribeira atrai gente da cidade inteira, gente que literalmente cruza Soterópolis de um ponto a outro para saboreá-lo?” A resposta só pode ser uma: a força do mito. O boca a boca simplesmente transformou o Sorvete da Ribeira no melhor sorvete da cidade, no ponto turístico que se iguala em importância ao Elevador Lacerda. E quem quiser que diga o contrário. Vir à Bahia e não tomar o sorvete é igualzinho a ir a Roma e não ver o Papa.
E é nessa hora exata que começo a esclarecer o título desse post, porque é nessa hora exata que me dou conta, olhando para a filha quilométrica, de que o que mantem Lula no poder é a sua aura mitológica.
Não importa o que ele fez ou não fez: assim como o sorvete da Ribeira, Lula é adorado sem muitos questionamentos. O povão – que é muito parecido com nós mesmos, ou com os turistas que chegam afoitos à cidade em busca do famoso sorvete – vota em Lula porque ele tem uma história que o eleva ao patamar maior do mito. Veio do proletariado, perdeu um dedo no exercício de uma profissão árdua e que paga mal, nunca esteve em uma universidade e nunca ouviu falar em concordância nominal. Outro dia li um ensaísta (me perdoem a falta do nome), que dizia que Lula nunca se dispôs a fazer um curso superior para manter, através da suposta ignorância, a aura de mito. Pode até ser.
Algumas sorveterias da cidade já tentaram colocar nas suas portas, em letras garrafais, que o sorvete que vendiam era da Ribeira. E não deu certo. Porque sorvete da Ribeira só é bom se tomado na Ribeira, assim como Lula só é bom quando ele esquece o plural e cita a mãe e seus conselhos sábios.
Lula sabe disso. Ele sabe do poder que tem, e sabe que a sua imagem ainda está imaculada por conta do mito que é. Se você já sucumbiu ao mito e foi à Ribeira tomar o famoso sorvete, já deve ter reparado que lá eles não primam em nada pela higiene. O piso é sujo, os meninos que atendem são mal-amanhados e a impressão que se tem é que, assim como o governo Lula, tem muita sujeira escondida no porão. Mas, mesmo assim, um domingo sem o sorvete da Ribeira, para alguns, é sem graça.
E assim passam-se os dias, os anos, e a gente segue, ignorando umas verdades aqui e outras ali, aceitando o óbvio, escolhendo o que há de menos pior. Pisamos na lama preta da porta da sorveteria e, mesmo assim, quando pomos a pazinha na boca, cheia de sorvete, agradecemos a Deus porque sorvete igual aquele ninguém ainda conseguiu inventar.