Tanto céu, tanto mar
Tanto céu, tanto mar. Deus hoje foi generoso; gerou um domingo de luminosidade que só se vê nos melhores dias de verão. Pipas no ar, corpos expostos, aquela sensação de merecimento: já há algumas semanas que não tínhamos um domingo de sol. Tarde em Itapuã, e Caymmi estava certo... beiju recheado com doce de leite, leite condensado, côco ralado e molhadinho -, o autêntico crepe nordestino, uma autêntica bomba calórica -, tudo isso acompanhado de uma deliciosa água de côco. Gente passando, festa na rua, pessoas exóticas. Se em Nova Iorque e Paris você consegue ser exótico e impor uma atitude, sei lá, pintando os cabelos de rosa, aqui na Bahia essa exotismo se vê ao natural. Para um bom observador, esteja ele em Itapuã, Ribeira ou qualquer outro bairro popular, essa excentricidade está no jeito natural de ser do baiano – do baiano autêntico mesmo, aquele que não viajou, não estudou muito, que vive numa ignorância sábia do mundo lá fora. É engraçado ver aquelas mulheres gordas, geralmente negras, despojadas, ricas de otimismo e auto-estima, passeando na praia com biquínis minúsculos, sentindo-se maravilhosas. Nessas horas sinto-me feliz, e se muitos vêem uma cena destas e logo lançam um comentário mais crítico, até de desaprovação, o meu olhar é de alegria e até de uma certa tranqüilidade com relação à harmonia das coisas: costumo dizer que quanto mais pessoas felizes e com boa auto-estima ao nosso redor, melhor. Quando se está bem consigo mesmo, você contagia o outro, e cria uma espécie de corrente harmoniosa. E o resultado? Entre outros, domingos de sol, de paz, de brilho e de alegria.